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WhatsApp em sala de aula? Saiba como a ferramenta pode apoiar o ensino

A tendência é que o aplicativo de mensagens mude de foco: se antes era usado quase exclusivamente para comunicação, agora, com as aulas presenciais, pode ser um apoio na recuperação dos conteúdos

Segundo a pesquisa Undime Educação na Pandemia 2021, 97,5% das redes municipais respondentes afirmaram orientar seus alunos via WhatsApp durante o ensino não presencial. Já o estudo Retratos da educação no contexto da pandemia do coronavírus, que compila os achados de outros cinco estudos, mostra que todos eles apontam o WhatsApp como a principal ferramenta de contato tanto com os estudantes como com suas famílias.

A conectividade e acesso a tecnologias complexas está longe de ser uma realidade para grande parte dos estudantes brasileiros, sobretudo crianças e jovens de escolas públicas. Contudo, o WhatsApp, aplicativo de mensagens presente na maioria dos smartphones, foi a maneira encontrada para facilitar o contato dos alunos e seus responsáveis com as escolas.

Para Débora Nunes, analista de produtos da Fundação 1Bi, o principal papel do WhatsApp nos últimos anos foi diminuir o impacto da pandemia e do ensino remoto emergencial no processo de ensino-aprendizagem.

“Se não tivéssemos essa ferramenta, as famílias teriam que ter smartphones ou dispositivos muito mais complexos, com acesso a mais armazenamento e mais dados para baixar um aplicativo e acessar uma plataforma para ver aulas ao vivo. Isso excluiria uma quantidade gigante de estudantes no Brasil, principalmente aqueles em situação de vulnerabilidade social”, defende.

Nova função 

Durante o fechamento das escolas, Débora explica que o WhatsApp foi usado de maneira emergencial para envio de aulas, atividades e comunicação com pais e responsáveis, representando, em muitos casos, a única ferramenta de comunicação, o que sobrecarregou o canal.

Agora, com a gradual volta às aulas no formato presencial, a ideia é aproveitar e extrair o que cada momento tem de melhor: se no presencial há a interação muito mais fácil entre equipe docente, funcionários e estudantes do que no online, o WhatsApp pode ser destinado ao complemento escolar.

“Nesse e nos próximos anos, teremos que trabalhar a diminuição de defasagem com personalização do ensino, que pode ser feita com atividades para casa e reforço escolar com conteúdo complementar enviado por WhatsApp”, afirma Débora. “Se as escolas usarem o melhor do presencial, que é interação entre os estudantes e com os professores e a parte de acompanhamento dos alunos, e fazer com que o WhatsApp seja um complemento para desenvolver exatamente o que eles não desenvolveram durante o ensino remoto, a ferramenta tem um potencial muito grande.”

Ela exemplifica: se um estudante apresentar uma defasagem em frações, mas esse conteúdo não está sendo trabalhado em matemática em sua turma, ele pode receber uma atividade via WhatsApp para estudar em casa e complementar os estudos.

“Nesse momento, temos que usar essa ferramenta não como uma solução de um problema grande, mas como parte do processo de ensino-aprendizagem que pode, sim, ajudar os estudantes e as famílias no acompanhamento dos estudos nessa nova etapa de recuperação da aprendizagem perdida nos últimos anos”, analisa Débora.

A Fundação 1Bi é responsável pelo AprendiZAP, uma ferramenta no WhatsApp justamente com o objetivo comentado por Débora: aproveitar a disseminação da ferramenta em grande parte dos smartphones para enviar aulas e exercícios para estudantes como reforço escolar.

Caminho inverso 

Ana Corrêa da Cunha, professora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Fernando Ferrari, em Santa Vitória do Palmar, no Rio Grande do Sul, mostra que é possível driblar a falta de tecnologia com a própria tecnologia. Ela fez um caminho inverso: em vez de incentivar que alunos usassem o WhatsApp em casa para acessar as atividades, promoveu um acesso coletivo em sala de aula.

Ana comprou um projetor portátil, que podia ser levado de classe em classe. Nele, conecta um aparelho que permite espelhar o celular e transmitir suas aulas a partir do WhatsApp. “Busquei essa forma de tecnologia para facilitar o acesso de todos os alunos, pois muitos não têm aparelho celular ou internet, já que alguns são de condições sociais bem humildes”, explica.

Além de ajudar na questão logística e possibilitar o acesso, Ana conta que a novidade do aparelho em sala de aula é que chamava a atenção dos alunos para as aulas. Mesmo que usado em outra lógica – em sala de aula e não em casa para acessar atividades –, a professora defende que vê benefícios na adoção da ferramenta. “O WhatsApp trouxe maior praticidade. Hoje perco menos tempo tentando fazê-los prestar atenção, tornando a aula mais agradável e interessante e conseguindo que aprendam a partir da minha interação com a turma.”

A professora afirma ainda que, em alguns casos, busca ajuda no AprendiZAP para explicar conteúdos mais complexos, facilitando a aprendizagem.

Interação com os alunos 

Assim como Ana, Kempes Farias, formado em matemática e professor da Escola Sesc Pantanal, no Mato Grosso, explica a importância do uso do WhatsApp como ferramenta que possibilitou manter o contato com os estudantes durante o fechamento das escolas. Ele começou a usar o aplicativo de mensagens de forma pedagógica no segundo semestre de 2020 para encaminhar atividades, enviar links das aulas e receber devolutivas das propostas.

Nesse sentido, Kempes reforça que a retomada das aulas presenciais terá o aditivo dos aprendizados sobre tecnologias e ferramentas de comunicação digital usadas durante a pandemia. “O WhatsApp já se tornou uma ferramenta ideal para o ensino remoto, e nessa retomada do ensino presencial ou híbrido, será utilizado para envio e recebimento de atividades, links de estudos, informativos, apoio nas tarefas sobre as atividades propostas e diversas outras ideias que irão surgindo.”

O professor segue a mesma linha de Débora ao afirmar que o WhatsApp foi de grande ajuda para responder alguns desafios colocados pela pandemia, e que, sem ele, os prejuízos para a educação seriam maiores. Mesmo assim, Kempes pontua a importância de uma observação atenta ao processo de ensino-aprendizagem, de forma a não sobrecarregar os estudantes. Uma das estratégias que pode ajudar nessa ponderação é o uso de aplicativos.

“Existem várias ferramentas que podemos usar para complementar o ensino e tentar promover a recuperação do conteúdo com propostas de atividades extras e aulas invertidas, por exemplo. O AprendiZAP, por exemplo, é ideal para promover atividades para casa, com links auxiliares de vídeos e correções automáticas, dando autonomia para o educando. Já no Khan Academy, os alunos poderiam utilizar estratégias e apoio do educador com as atividades recomendadas e avaliadas em paralelo ao ensino presencial”, conclui.

Fonte: Portal Porvir - Maria Victória Oliveira

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