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Trabalho por projetos une imaginação e conteúdos curriculares

Propostas que vão além de abordagens tradicionais de ensino conseguem engajar os estudantes e diversificar o aprendizado previsto no currículo

Muito se fala sobre a potência do trabalho por projetos, mas como isso se dá na prática? Quais são as principais diferenças entre a realização de projetos e abordagens mais tradicionais de ensino? De que forma essa metodologia apoia o desenvolvimento dos estudantes?

Para Ellen Barbosa, professora da equipe pedagógica da RBAC (Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa), um dos principais aspectos do trabalho por projetos está na sua relação com a criatividade e na possibilidade de interação que essa abordagem oferece aos estudantes. Não à toa, um dos quatro Ps nos quais a aprendizagem criativa é centrada significa projetos.

“De forma geral, quando construímos o aprendizado por meio de projetos aliados à imaginação, oportunizamos aos estudantes a criação e interação com ideias e estratégias. Esse processo contribui para o desenvolvimento do pensamento criativo. Atividades por projetos ajudam a desenvolver o pensamento e a expressão pessoal e coletiva, dando significado para o conteúdo e abrindo oportunidade para outras áreas do conhecimento”, explica.

Nova ótica 

Existem alguns conteúdos curriculares que já têm praticamente uma fórmula pronta de trabalho em sala de aula. Mesmo assim, alguns professores decidem trilhar caminhos diferentes e abordar essas questões por novas óticas.

Sandreliza Mota e Silvia Fernanda Serra, professoras da rede municipal de São Luís (MA) que fazem parte do programa Escolas Criativas, precisavam desenvolver textos narrativos com seus alunos. Ao invés de propor leituras com a identificação de elementos que caracterizam essa estrutura e, depois, exercícios de textos, elas criaram o projeto Histórias de Improviso, uma atividade que permite aos estudantes criarem suas próprias narrativas, fazendo uso de diferentes materiais e de sua imaginação.

“O Histórias de Improviso é uma atividade com elementos da abordagem da aprendizagem criativa que convida crianças, jovens e adultos a dar asas à imaginação por meio da elaboração de um texto narrativo de forma coletiva”, explica Sandreliza.

A turma usa uma folha-guia com a estrutura e elementos da narrativa. Parte-se de criações individuais de personagens, e cada aluno usa um formulário de caracterização para criar o seu. Em seguida, vem a fase de prototipação, com recursos como papelão, tecidos, luzes coloridas (de LEDs), motores pequenos, botões e sucatas para dar vida às suas criações. A ideia, portanto, é unir um conteúdo curricular em uma proposta mais aberta, participativa e engajadora.

“Depois da concepção e prototipação dos personagens, no terceiro momento é proposta a elaboração, em grupo, de uma narrativa envolvente incluindo todos os personagens inventados, explorando, assim, a expressão literária com muita diversão, criatividade e compartilhamento”, aponta a educadora.

Para Sandreliza, a atividade impulsiona a escrita criativa, motivando as crianças e jovens a serem participantes ativos das suas produções, combatendo o bloqueio criativo a partir da criação de personagens, com intuito de introduzi-los em uma narrativa elaborada entre pares. Ellen complementa e afirma que o projeto combina o exercício da escrita, a contação de histórias, a comunicação de ideias e o desenvolvimento manual.

Alternativas abarcam a diversidade 

Além do estímulo à criatividade, o trabalho em grupo e a possibilidade de colocar a imaginação para funcionar, a proposta também é uma forma de abarcar a diversidade, isto é, possibilitar que todos os estudantes tenham a oportunidade de aprender, mesmo que o façam de maneiras diferentes. Se alguns estudantes não conseguem aproveitar tão bem as abordagens mais tradicionais de ensino, as abordagens criativas podem ser de extremo valor.

“Sabemos que cada um dos nossos alunos tem características próprias e o que precisamos é ajudar todos a atingirem seus potenciais. Nesse sentido, é essencial oferecer diferentes caminhos para que eles possam se desenvolver de diferentes maneiras. Um dos objetivos da escola e da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) é favorecer uma aprendizagem e desenvolvimento integral de todas as crianças e adolescentes. Quantos caminhos diferentes podemos construir para que isso aconteça na prática?”, reflete Ellen.

Adaptação criativa

Sandreliza explica que o projeto Histórias de Improviso foi criado no final de 2019 como uma última ação do DAC (Desafio de Aprendizagem Criativa), uma iniciativa da RBAC. A ideia foi inspirada nas “histórias de imaginação” criadas por estudantes da área verbal linguística e tecnologia com características altas habilidades ou superdotação do ensino fundamental 1 e 2, matriculados nas escolas da rede municipal de São Luís, que recebiam atendimento educacional especializado no CAAHS (Centro de Atividades de Altas Habilidades e Superdotação).

Em razão da pandemia, somente em 2022 a atividade começou a ser implementada nas ações formativas dos professores da rede municipal, que já estão desenvolvendo a ideia em suas salas de aulas.

É o caso de Lourdilene Pereira Costa, professora das séries iniciais do ensino fundamental . Durante atividades sobre gêneros textuais com seus alunos do 4º ano, como fábulas, contos, poemas, lendas e notícias, Lourdilene percebeu que muitos alunos tinham dificuldade em compreender os gêneros e no ato de escrever. Ao mesmo tempo, encontravam facilidade para ilustrar acontecimentos das histórias ou rascunhar desenhos em propostas de outras disciplinas.

Foi então que a educadora, inspirada na formação do projeto Histórias de Improviso, decidiu adaptar a proposta e desenvolver um planejamento de atividade que incluísse as artes e imaginação a partir de ilustrações feitas pelos estudantes. “Trabalhamos a produção escrita de um texto a partir do esboço de uma imagem criativa”, explica.

Juntamente com seus alunos, Lourdilene criou o painel de personagens. Os alunos deveriam imaginar todas as características de um personagem e nomeá-lo. “Essa foi a melhor parte pois surgiram muitas risadas. Todos se propuseram a apresentar suas criações, inclusive aqueles alunos mais tímidos e com dificuldade de verbalizar certas informações.”

Para a educadora, a atividade contribuiu para ressignificar abordagens comuns da língua portuguesa, além de propor novas dinâmicas em sala de aula para o estudo dos gêneros narrativos e suas estruturas.

“Com isso, o aluno pode esboçar inicialmente a descrição verbal das ações de seus personagens em um determinado espaço e lugar. Além disso, a proposta permite que entendam que todos os textos estudados nada mais são que estruturas narradas de maneira fictícia ou não, mas com apelos diferentes. E que, ainda assim, possuem elementos comuns, como narrador, personagem, lugar, espaço e tempo.”

Fonte: Portal Porvir - Maria Victória Oliveira

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