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Tecnologia na escola amplia as possibilidades de aprendizagem na prática

Quem já aplica ou quer ampliar o uso da tecnologia na escola precisa levar em conta o que já existe e planejar detalhadamente o investimento

Um carro movido a energia solar. Uma bike food. Jogos matemáticos baseados no Scratch. Mãos biônicas construídas com papelão, elásticos e barbantes. A cultura maker tem sido uma marca da Escola Estadual Deputado Manoel de Nóbrega, localizada em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo (SP). Os alunos vêm ganhando destaque em competições, feiras e no noticiário, com os projetos realizados nas disciplinas eletivas focados em tecnologia.

Diretor desde 2019, Miguel Muniz Faleira Neto entende a tecnologia como essencial, tanto na própria formação (atualmente, cursa uma pós-graduação em Educação 4.0) quanto no apoio aos docentes e estudantes. A recém-inaugurada sala maker da escola, que conta com equipamentos eletrônicos, material de reuso, placas e kits de robótica, reforça a preocupação da escola em oferecer apoio para que professores e alunos experimentem as possibilidades das tecnologias.

“No plano de ação da escola, sempre há ações que utilizam as tecnologias, bem como na elaboração do MMR, Método de Melhoria de Resultados. Alguns professores usam um pouco mais do que outros, mas todos são incentivados. E, quando existe algum tipo de limitação técnica para o uso de determinados softwares, aplicativos ou plataformas, todos nós damos suporte”, reforça Miguel, que também é professor de artes.

Para Miguel, a cada dia se comprova como as TDICs (Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação) fortalecem o processo de ensino e aprendizagem. “As TDICs apoiam o aprendizado das crianças. Os professores também ganham, no ponto de vista de engajamento dos estudantes, ao buscar formação específica em tecnologia visando adicionar novas formas de ensinar e deixando as aulas mais dinâmicas e atualizadas aos estudantes do século 21. Essas formações podem ser no âmbito externo e também interno quando os professores se formam com os próprios pares”, aponta.

Diagnóstico preciso 

Diretora pedagógica e de inovação da APDZ Educação e Tecnologia, Sueli Abreu comenta o crescente interesse das escolas em aumentar a tecnologia em seus espaços. O investimento na área é prioritário quando se pensa em alfabetização e letramento digital, ainda mais quando se trata da competência 5 da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), focada na cultura digital e na necessidade de usar bem a tecnologia em todos os aspectos.

“É preciso olhar para a escola e entender qual o melhor investimento, o que já existe e o que é preciso adquirir. Se eu vou trabalhar com programação e eu tenho um notebook, quantos alunos vão usá-lo? É preciso sempre pensar no uso por aluno”, explica.

Dentro desse diagnóstico, é necessário entender, ainda, se existirá uma sala para trabalhar tecnologia, como a da escola Manoel da Nóbrega, ou se cada sala terá seus equipamentos, bem como se há uma boa rede de internet para que o professor possa fazer um uso adequado. Outro aspecto importante é checar, entre os docentes, o que aquele grupo já tem de conhecimento e em quais aspectos precisam ser capacitados.

“O diagnóstico não é uma coisa pronta. É preciso planejar esse investimento, que não precisa ser todo de uma vez só. As consultorias educacionais podem avaliar, junto com a escola, qual é a meta e o que é necessário para atingi-la”, comenta Sueli.

Foco nas demandas

Edu Arruda Neto, diretor do ICE (Instituto Cuiabano de Educação), comenta que, na escola localizada em Cuiabá (MT), todo processo de aprendizagem é baseado nas escolhas que alunos e professores fazem. E que a tecnologia vem justamente para ampliar esse leque, a fim de oferecer mais opções de escolha aos alunos para aprenderem determinados conteúdos.

“Nos últimos três anos, nas pesquisas que fazemos, detectamos que mais da metade dos nossos novos alunos vieram por causa da tecnologia, porque os pais queriam que os filhos tivessem uma formação diferenciada desde as séries iniciais”, diz Edu, também professor de redação e Projeto de Vida para o fundamental 2 e ensino médio. A escola oferece, desde 2017, aulas de tecnologia educacional a partir dos 4º anos do fundamental até o ensino médio.

Além das ferramentas que apoiam o planejamento e execução das aulas, o ICE de Cuiabá criou um portal para professores postarem conteúdos exclusivos e desenvolverem suas próprias eletivas digitais para o ensino médio, respeitando o projeto pedagógico da escola.

“No treinamento para o Novo Ensino Médio, por exemplo, fui procurado por um grupo de professores. Eles estão desenvolvendo uma disciplina baseada em e-games. Outro educador está na fase final de criação de uma eletiva em cidadania digital, onde trabalharemos conceitos de moral e ética dentro de situações reais e cotidianas dos alunos, causadas pelo impacto da tecnologia na vida das pessoas. Inserimos a tecnologia em sala de aula de maneira ampla, atual e relevante”, exemplifica.

Entre as sugestões de Edu para as escolas que querem ampliar a tecnologia, uma é fundamental e reforça as indicações de Sueli Abreu, da APDZ: a tecnologia deve ser relevante para a comunidade escolar. “Aprendemos isso com o tempo. Já tivemos experiências de ferramentas tecnológicas que se mostravam excelentes, mas na implantação não funcionaram porque eram complexas ou porque nosso público não se interessava ainda por elas. O timing (momento certo) é tudo no uso de tecnologia na escola.”

Estímulo à criatividade

Outro ponto levantado por Edu é trabalhar a ludicidade com o apoio da tecnologia. “Tudo passa pela curiosidade natural dos professores em tecnologia e, principalmente, pela inquietude. O educador não pode se acomodar em usar sempre a mesma metodologia e os mesmos recursos pedagógicos, porque os alunos mudam a cada ano e, muitas vezes, dentro de um mesmo grupo há aqueles que aprendem de uma maneira e outros que precisam de formas diferentes”, comenta o diretor.

É importante, também, mostrar aos pais os reflexos do uso das aulas maker e da tecnologia educacional no estímulo da criatividade, concentração e raciocínio lógico dos alunos, defende Edu. E exemplifica: “Na educação infantil, por exemplo, usamos robôs para criar jogos onde os alunos aprendam brincando, ao mesmo tempo que desenvolvem as habilidades sugeridas pela BNCC para essa etapa. No ensino fundamental, temos aulas maker com uso de tecnologia para que os alunos vejam, na prática, a aplicação daquele conceito teórico.”

Miguel Muniz reforça, ainda, ser uma demanda do gestor garantir esse ambiente criativo. O diretor da escola Manoel de Nóbrega acredita que a gestão tem um papel crucial para a introdução e permanência da tecnologia e da cultura maker nas escolas. “Assim, todos precisamos formar nossos professores para a utilização e potencialização desse novo cenário sem deixar retroceder o que foi conquistado, pois os estudantes dão feedbacks (retornos avaliativos) favoráveis às ações tecnológicas e makers e sempre dizem o quanto melhoram o aprendizado”, aponta. “Não há como voltar atrás. Agora, é só avançar e aprender juntos como as TDICs e ferramentas maker podem nos ajudar a melhorar a nossa práxis e ao mesmo tempo formar jovens protagonistas na busca dos seus próprios futuros”, conclui o diretor.

Fonte: Portal Porvir - Ana Luísa DMaschio

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