Projeto sobre a fome combina reflexão, empatia e aprendizado de inglês
Atividade incentiva alunos do 1º ao 6º ano do ensino fundamental a discutir a urgência da fome no Brasil e no mundo a partir de conteúdos em inglês
No final de 2020, 19,1 milhões de brasileiros conviviam com a fome. Em 2022, o número saltou para 33,1 milhões de pessoas sem ter o que comer. Os dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil mostram que 58,7%, da população no país convive com algum grau de insegurança alimentar: leve, moderado ou grave (fome).
O cenário de emergência humanitária não pode ser ignorado. Nesse sentido, todos os cidadãos e cidadãs devem se mobilizar para, de alguma forma, promover o acesso a alimentos para todos. Trazer o assunto para a escola e possibilitar a conscientização de crianças e jovens foi o objetivo do Edify, que, em parceria com a organização Ação da Cidadania, organizou a campanha Estimule a Empatia 2022.
Marcela Ribeiro, mentora pedagógica sênior do Edify, explica que a iniciativa tem como objetivo fomentar as habilidades socioemocionais, como o autoconhecimento e a convivência em sociedade, e promover a cidadania global, ampliando a visão de mundo dos alunos. Além disso, para cada estudante envolvido na campanha, o Edify se compromete a doar 10 pratos de comida para a Ação da Cidadania.
Desenvolvimento integral
Para Carlos Mansilha, mentor pedagógico do Edify, levar um tema tão importante e urgente quanto a fome para as salas de aula colabora com a formação integral dos alunos a partir do desenvolvimento de habilidades socioemocionais.
“No projeto, há um estímulo à empatia e os estudantes aprendem a lidar com seus sentimentos e emoções, além de adquirirem consciência sobre o mundo ao redor deles. Dessa forma, as relações com outras pessoas são trabalhadas e isso gera respeito e o aprendizado a partir das diferenças.”
Ele comenta, ainda, que com a troca de experiências, o estímulo ao senso crítico e tomada de decisão, os estudantes conseguem participar da melhoria de suas comunidades. Assim, os alunos são apoiados na própria formação de cidadãos para o mundo, o que está diretamente conectado ao ensino de uma segunda língua globalizada como o inglês.
“Na educação bilíngue, o inglês é mais uma ferramenta de comunicação e o seu uso vai além da sala de aula, é para a vida. Ele faz parte do repertório linguístico dos alunos, oferecendo a oportunidade de atuação global na sociedade”, completa Marcela.
Vitor Espíndola, professor de inglês dos 6ºs e 7ºs anos do Colégio Atlântico, em Macaé, no Rio de Janeiro, também comenta sobre a conexão de um idioma global com aspectos de cidadania e a importância de os estudantes terem contato com outras realidades diferentes da sua.
“Nossa base de ensino foca muito na ideia de que os alunos são cidadãos globais e, por isso, precisam ter noção de tudo o que acontece no mundo e é relevante para a sociedade. Isso se conecta muito bem com o aprendizado de idiomas, porque é uma forma interativa de fazê-los se interessar por coisas que, normalmente, crianças dessa idade não se interessariam e, ainda, aprender uma nova língua.”
Conexão com o inglês
O Edify pensou nas atividades que compõem a campanha a partir do Thanksgiving, o Dia de Ação de Graças, feriado tradicional comemorado anualmente em novembro, principalmente nos Estados Unidos, que, como explica Marcela, carrega em si o cerne da gratidão.
“Com o projeto Empatia, oferecemos aos alunos a possibilidade de encarar a própria realidade com um olhar de agradecimento profundo e a reflexão de que uma das formas de agradecer é contribuir para tornar mais amena e digna a realidade de pessoas menos favorecidas”, explica Marcela.
A partir de uma reflexão inicial sobre o que é o Dia de Ação de Graças e seu maior propósito, ser um momento de agradecimento e reflexão sobre tudo o que cada um tem em suas vidas, os educadores introduzem o tema da fome e promovem uma reflexão sobre como ela impacta o desempenho de atividades cotidianas.
“O Dia de Ação de Graças se conectou de uma forma prática e bonita com o projeto Empatia, pois é um feriado sobre ajudar o próximo, dar às pessoas o que precisam, e o ‘give back’ (retribuir). É um tipo de atividade que pode não só ajudar muita gente, mas também mostrar para as crianças o quanto é importante elas perceberem como são sortudas e afortunadas de ter a vida que têm”, reforça Vitor.
Em seguida, aprofundam o assunto e falam sobre pessoas que não têm comida diariamente. Quais os impactos da fome e da insegurança alimentar? “Essas reflexões e discussões levam os alunos a conhecer e pensar em realidades muito diferentes daquelas que eles vivem, desenvolvendo o pensamento crítico, a comunicação e argumentação e exercitando a empatia”, aponta Marcela.
A atividade foi realizada com as turmas do 1º ao 6º do ensino fundamental, mas de forma adaptada às faixas etárias. Para estudantes do 1º ao 3º ano, foi apresentado um vídeo que, de forma lúdica, mostra o quanto todos juntos podem ajudar uns aos outros fazendo uma sopa. Para os alunos do 4º ao 6º ano, o vídeo traz números relacionados à fome, tais como taxa de mortalidade e desnutrição. Ambos levam a turma a refletir sobre o tema e preparar uma campanha de conscientização e arrecadação de alimentos.
“O foco para todas as turmas acaba sendo o mesmo, ou seja, mostrar gratidão pelo que temos e gerar um sentimento de solidariedade relacionado à fome mundial”, afirma Carlos.
Além das pesquisas sobre o tema e das arrecadações de alimentos, os estudantes também desenvolveram slogans e posters ilustrados inspirados por sentimentos como gratidão, solidariedade, esperança e empatia e criaram “shape poems”, poemas cujos versos e estrofes formam a figura de uma palavra, também relacionados ao tema da fome e empatia.
Engajamento
Enquanto mentor pedagógico, Carlos comenta que, a partir dos vídeos e fotos que os professores têm enviado, ele consegue perceber o quanto os alunos têm se dedicado ao projeto.
“Tivemos uma turma que pensou não só nas pessoas que passam fome, mas também nos animais abandonados que também não têm o que comer. Os jovens passam a trazer para a sala de aula as vivências que possuem. Isso os torna cidadãos que participam ativamente na sociedade em que vivem”, comenta.
Foi o caso dos estudantes de Vitor, que, além de organizarem uma arrecadação de alimentos para uma instituição de Macaé, também reuniram ração para doar a um abrigo de animais da cidade.
“A proposta foi muito bem recebida pelos alunos, foi algo que realmente despertou o interesse deles. Como professor de inglês como segunda língua, eu tento trabalhar esse tipo de conteúdo que possa gerar essa atenção para uma situação presente na vida de tanta gente. Muitas vezes, essas crianças não têm acesso a essas informações por estarem em um lugar tão privilegiado. Foi uma ótima maneira de fazê-las cientes sobre a fome e as diferenças sociais”, finaliza Vitor.
Fonte: Portal Porvir - Maria Victória Oliveira