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Projeto de tecnologia para o novo momento precisa de ambientes de aprendizagem flexíveis

Superar o modelo tradicional de organização de sala de aula beneficia o uso de ferramentas digitais por professores e estudantes

Antigamente, quando não era tão comum assim encontrar smartphones ou computadores nas mãos dos alunos, as escolas tinham à disposição de professores e estudantes a “sala de audiovisual”. Era ali, com uma TV ou projetor, que a turma tinha acesso a filmes e vídeos que ajudavam a complementar os temas tratados dentro da sala de aula tradicional. Podia até mesmo ser considerado um evento muito específico na rotina dos alunos.

Avance mais alguns anos e encontraremos os laboratórios de informática, onde ficavam enfileirados muitos computadores, geralmente de mesa, e com os quais os estudantes tinham contato também em uma situação muito específica, quase ritualística.

Em 2021 os dispositivos portáteis, aplicativos e computadores já conquistaram um espaço no bolso e na sala de aula. Mais que isso, fazem parte do contexto pedagógico de muitas instituições de ensino. Mas, de que forma essa inserção pode afetar a trajetória de aprendizagem, ainda mais no contexto da pandemia de Covid-19, em que alunos estão presentes na escola em grupos diferentes?

É necessário que um projeto tecnológico tenha, em seus horizontes, como o ambiente escolar vai recebê-lo. Leonardo Correa, Apple Teacher e Especialista em Educação na Sejunta, afirma que é possível perceber a sala de aula em três pilares: aluno, professor e ambiente. Os dois primeiros são agentes de aprendizagem. Já o ambiente é o local onde a educação acontece e, com a inserção de tecnologias, é bastante afetado.

Leonardo destaca que observar o ambiente tende a ser também uma forma de investimento não só em termos de infraestrutura como também de pessoal, visto que as atividades propostas e o desenvolvimento que a escola pretende alcançar com os alunos se dá nesses espaços. “Uma sala de aula que é de fato inovadora quer sair, quer respirar, ver o sol e impactar a cidade”, afirma.

Salas com carteiras enfileiradas ainda existem, mas podem ser impactadas com a chegada de dispositivos tecnológicos. “Não existe [essa ideia de] olhar para as costas de um outro aluno. Em qual experiência no mundo você estará interagindo com as costas de outra pessoa?”, pergunta Mariana Siqueira, coordenadora de operações da Maple Bear Goiânia e Aparecida de Goiânia (GO).

Coordena uma escola que atua com tecnologias digitais do ensino infantil até o 9º ano do ensino fundamental, ela conta que muitas vezes professores do ensino infantil levam as crianças ao jardim para uma experiência com realidade aumentada usando um iPad. É uma relação fora da convencional sala de aula, mas que reflete a tecnologia sendo inserida no dia a dia da turma de maneira natural, sem grandes mudanças no ambiente para receber o projeto tecnológico.

Como em outros pontos do projeto de tecnologia para escolas, aqui a  intencionalidade também vale mais do que a ferramenta em si. Leonardo aponta que uma sugestão possível para integração da tecnologia com o ambiente é pensar em salas modulares, amorfas, onde seja possível sentar em roda, ou sentar no chão se for o caso, diferente das conhecidas filas de cadeiras, por exemplo. “A tecnologia tem que ser mais um meio e não o fator principal. Muitas competências que podem ser desenvolvidas com o analógico. O que mais importa é como você vai usar esse meio, porque o ponto final é o aluno”, afirma Leonardo.

Os espaços comunicam uma mensagem, sejam eles físicos ou digitais. Uma mensagem que pode ser entendida de diferentes formas, de acordo com nossos sentidos. “A estrutura da sala de aula comunica que devemos sentar e ouvir. Se desejamos estimular formas criativas de atividade, a configuração desse espaço precisa ser modificada.”, diz Alex Sandro Gomes, professor no Centro de Informática da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

Ele ressalta que atualmente as modalidades possíveis de prática educacional são muitas e pedem adaptações dos espaços físicos e digitais onde se pratica o ensino e a aprendizagem.

O professor Alex afirma que é necessário entender os significados das práticas e dos objetos digitais para os alunos. É importante ouvir e entender como eles percebem e compreendem essas atividades nos meios digitais. Este é um dos impactos na cultura da instituição, que tende a ser construída a longo prazo. “A partir dessa escuta ativa e atenta, reconhecemos a identidade das pessoas e podemos com elas conceber novas formas de práticas híbridas. Qualquer tentativa de impor métodos e tecnologias podem resultar em baixo impacto sem essa escuta inicial”, diz.

Sobre essa imposição, Mariana reforça que na implementação de tecnologias digitais, principalmente avaliando os impactos que ela pode ter na cultura e nos ambientes, um líder engajado pode fazer a diferença. “É importante que eles estejam envolvidos mesmo com o processo, encarando a ferramenta como promotora de mudanças”, afirma.

Parceria Porvir com Se Junta

Fonte: Portal Porvir - Ruam Oliveira

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