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Pesquisa do Google mostra brasileiros cada vez mais interessados em cursos online

Evento realizado em São Paulo apresentou números voltados às oportunidades de educação no Brasil; cursos livres podem chegar a 28 milhões de pessoas

A transformação no modelo educacional ainda não aconteceu na velocidade e nem na escala necessária para impactar profundamente o ensino e a aprendizagem. Dados do Google sobre o interesse dos brasileiros no tema da educação, porém, mostram um desejo maior sobre diferentes modalidades de cursos, que vão além do sistema formal.

No evento Think with Google Education (Pense com o Google para Educação), realizado na última sexta-feira (5), a empresa apresentou um quadro que ajuda a explicar o que afinal significa dizer que processos educacionais foram acelerados pela pandemia de Covid-19, frase que se tornou chavão em diferentes setores.

Um primeiro conjunto de informações foi extraído de uma pesquisa realizada com 1,5 mil pessoas na plataforma Google Survey durante o mês de julho deste ano. Na ocasião, 29% dos entrevistados disseram que estão interessados em fazer cursos livres, 25% cursos de idioma, 18% cursos de graduação, 11% ensino fundamental e médio e outros, e, por fim, 11% cursos preparatórios, como aqueles para concurso público, por exemplo. Ao extrapolar os dados considerando a população brasileira e a taxa de acesso à internet no país, o interesse somente em cursos livres, por exemplo, pode chegar a cerca de 28 milhões de pessoas.

“A oportunidade da educação no Brasil vai muito além dos 3,5 milhões de pessoas que se inscrevem nas universidades todos os anos”, diz Guilherme dos Anjos, diretor de negócios para o segmento de educação no Google Brasil.

As escolhas dos brasileiros se transformaram não só em relação à modalidade e duração do curso, mas também em relação ao formato. Grande parte das pessoas passou a considerar cursos na modalidade de EaD (educação a distância) ao procurar uma instituição. De acordo com uma segunda pesquisa encomendada pelo Google à consultoria Educa Insights, realizada com cerca de 750 pessoas, mostrou que, entre 2020 e 2021, o número de brasileiros que considerava fazer um curso à distância saltou de 40% para 78% dos entrevistados. Em 2017, esse número era de apenas 19%.

Em julho, dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) apontam, ainda, que a pandemia acelerou o ingresso de estudantes no ensino superior a distância. Isso já vinha acontecendo desde 2016, porém, agora fez com que essa modalidade ultrapassasse a presencial, como mostrou a Folha de S. Paulo no final de julho. Mais baratos e flexíveis, os cursos EaD tinham 1,5 milhão de ingressantes em 2019 e somaram 2 milhões em 2020, alta de 26%. No mesmo período, a educação presencial recuou quase 14%.

“A modalidade tende a ser menos rentável para instituições privadas, menor ticket (mensalidade) médio e ainda tem maior taxa de evasão. Neste momento, enxergamos uma oportunidade para as empresas repensarem suas estratégias, oferecendo uma diversidade maior de opções para atender ao interesse dos brasileiros de continuar estudando, por meio de modalidades variadas e em formatos inovadores”, afirma o executivo do Google.

Hábitos e perfil dos usuários

Thais Melendez, líder da área de dados para educação da empresa, mencionou que a intersecção de pessoas interessadas nos diferentes perfis de cursos mencionados acima chega aos 80%. “Isso significa dizer que, quando a gente junta esses grupos, chega-se a um total de 40 milhões de pessoas. Cerca de 50% têm entre 25 e 44 anos e é uma parcela majoritariamente formada pelo público feminino.”

André Gibin, diretor da área de insights (análise de dados), também dimensionou o quanto a área de educação e o comportamento online nos últimos anos mudou nas diferentes plataformas, como o YouTube. Muito disso é impacto, segundo ele, dos hábitos online de brasileiros, que passam 5 horas por dia, em média,usando o celular e ficam apenas atrás da Índia no recorte de downloads de aplicativos educacionais.

O YouTube registra, em 2022, 130 milhões de inscritos nos 50 principais canais que tratam de educação. As buscas por cursos na plataforma aumentaram 70%. E o que está neste recorte? Cursos preparatórios, que registram 8 milhões de inscritos, e cursos de idiomas com 9 milhões de inscritos. Neste último caso, o crescimento no ano é de 39%. “Não foi só um pico de’estou em casa, quero estudar inglês’. Esse númerocontinua crescendo”, explica André.

No ambiente de educação superior, as procuras no principal mecanismo de busca da internet também refletem o menor interesse em participar do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) ou por encontrar informações sobre o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) ou pelo ProUni (Programa Universidade para Todos), programas federais que receberam menos investimento nos últimos anos.

Paralelamente a esse movimento, novos nomes chegam ao mercado, aponta o executivo do Google. “Como, por exemplo, empresas do mercado financeiro entrando no mercado de graduação, novos aportes para financiamento estudantil, novos aplicativos nos quais você consegue cursar uma graduação uma pós-graduação 100% viacelular ou novas tecnologias que ajudam o aluno a ter um aprendizado personalizado”.

Perspectiva

Na abertura do evento, Nadeem Nathoo, cofundador da The Knowledge Society (TKS), empresa focada no desenvolvimento de jovens de 13 a 17 anos para serem pioneiros em tecnologias e ciências emergentes, ressaltou o quanto as mudanças na educação hoje são incrementais, discretas, e tenta-se fazer reparos em vazamentos em vez de pensar adiante, defender um ponto de vista e assumir riscos.

Segundo Nadeem, essa dificuldade para mudar a cadência de transformações educacionais diz respeito à natureza do setor. Diante de uma pergunta sobre qual é o melhor produto de aprendizado existente no mercado, poucos conseguem dar uma resposta objetiva, como acontece em áreas de eletrônicos ou na indústria automotiva.

Em outro exemplo, mostrou como diferentemente da academia de ginástica, que entrega uma série de rotinas para quem chega com o objetivo de emagrecer, a escola não tem resposta a alguém que sonha em ser cientista da computação e pergunta: “Qual a melhor maneira de aprender?”.

“O estudante vai ouvir que depende do tipo de estudante que ele é, disso e daquilo. É uma opinião que pode estar correta, mas demonstra que você (escola ou instituição de ensino) não tem uma perspectiva”, comenta Nadeem. Para além permitir com que jovens enxerguem que existe um projeto educacional que os permita alcançar seus sonhos, o empreendedor canadense comentou que é preciso trazer o conceito de experiência de usuário, comum no desenvolvimento de produtos e serviços de tecnologia, para o debate educacional, o que permite uma sensação de superpoder a quem aprende. “Se você baixa um aplicativo e não está feliz com ele, em cinco segundos o desinstala.”

Fonte: Portal Porvir - Vinícius de Oliveira

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