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Objetivos de aprendizagem devem nortear a compra de tecnologias digitais

Não é recomendável que as gestões escolares adquiram tecnologia sem metas claras. É necessário avaliar os objetivos do projeto político-pedagógico e questões como infraestrutura e formação de professores

Incluir tecnologia na escola requer bastante intencionalidade. Não se trata apenas de escolher uma ferramenta e implementá-la sem um objetivo educacional. Ter um olhar crítico para o que está sendo inserido no ambiente escolar é fundamental para conseguir bons resultados, seja no desempenho dos alunos ou mesmo no da própria instituição.

“O uso da tecnologia adotada precisa estar ajustado ao cronograma do ano letivo, os professores precisam estar confortáveis com sua usabilidade e as famílias devem estar cientes dos benefícios previstos com essa inovação na rotina dos estudantes”, explica Laís Rodrigues, supervisora no time de criação pedagógica na Árvore, plataforma gamificada de leitura presente em mais de 11 mil escolas brasileiras.

Para além dessa intencionalidade pedagógica, que orienta os gestores a desenvolver um olhar mais crítico e apurado para os objetivos e usos das tecnologias digitais, Laís afirma que é fundamental estar atento à segurança oferecida pelas plataformas adotadas. “Esse aspecto vai ser determinante na relação das famílias com a tecnologia e, consequentemente, o engajamento em seu uso”, diz.

Recentemente, um estudo divulgado pelo CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil), alertou sobre o uso indiscriminado de algumas plataformas. Um dos principais argumentos era o controle e acesso a dados pessoais que as grandes empresas teriam quando seus produtos estivessem sendo utilizados.

Qual o objetivo principal?

Larissa Santa Rosa, especialista em educação no Cieb (Centro de Inovação para a Educação Brasileira), comenta que a intencionalidade pedagógica deve ter protagonismo na hora em que o gestor decide adquirir determinada tecnologia, bem como entender a infraestrutura da escola.

Ela recomenda aos gestores duas perguntas fundamentais: “Esse recurso educacional funciona na estrutura que tenho? Funciona com a internet e equipamentos disponíveis?”

Larissa também aponta que o gestor precisa pensar na formação dos professores: eles devem estar capacitados para lidar com a tecnologia adquirida. Em recente matéria, o Porvir reuniu algumas orientações que a liderança escolar pode considerar. Afinal, a tarefa de sensibilização é mais efetiva quando o diagnóstico do que pode ser melhorado conta com a participação de diferentes envolvidos.

Projeto Político-Pedagógico e a tecnologia 

O que a escola pensa e acredita ser está impresso no projeto político-pedagógico apresentado à comunidade escolar. É por meio dele que as ações podem ser concretizadas. E a introdução de ferramentas tecnológicas tem de estar alinhada ao que o projeto representa.

“Se a proposta pedagógica da escola não reflete um uso intencional da tecnologia, o gestor não estará comprando uma tecnologia de forma consciente. O PPP tem que influenciar essa compra de tecnologia educacional”, diz Larissa.

Olhando para o PPP, o gestor vai identificar em qual circunstância as tecnologias digitais irão se encaixar melhor, recomenda Laís “Esse olhar vai ajudar, inclusive, na hora de apresentar o recurso às famílias, facilitando em casos onde possa haver algum tipo de objeção à adoção da plataforma”, conta.

Muitos acreditam que a compra de tecnologia produz um certo tipo de milagre nas escolas, o que não é verdade. A clareza nos objetivos, tendo um olhar crítico para seus usos, é o que pode determinar se uma tecnologia faz sentido ou não dentro dos objetivos da escola.

Laís cita outro elemento importante que é o acompanhamento de resultados, algo que tais plataformas comumente oferecem e que a gestão pode se beneficiar. “A gestão pode e deve acompanhar esses resultados a fim de avaliar se os objetivos estão sendo alcançados, se existe algum ponto de atenção, se é preciso recalcular rota ou investir em mais engajamento dos menos envolvidos”, sugere.

A especialista ainda ressalta que uma má escolha de tecnologia educacional pode significar mais trabalho para o corpo docente, o que, por sua vez, pode acarretar em desengajamento, o que deve impactar nos estudantes.

Pensar nos professores 

Por melhor que seja a tecnologia do ponto de vista do gestor, é também necessário levar em consideração o que os professores sabem ou pensam sobre sua aquisição.

“Geralmente, quando a gestão adquire uma tecnologia, ela cobra para que seu uso seja realizado e os professores podem se sentir pressionados por isso. Para evitar esse tipo de problema, é necessário que coordenadores e educadores participem da decisão, conheçam a proposta antes dela ser adotada”, afirma Laís.

A formação docente, portanto, é mais um elemento a ser considerado no momento de escolher a tecnologia. Luciana Matos, professora de inglês no ensino fundamental 1 na Escola Municipal Londres, no Rio de Janeiro (RJ), reforça que tudo depende do “material humano”, e antes de qualquer implementação a preparação tanto dos professores, quanto de toda a gestão é fundamental para o bom andamento do projeto.

“Somos nós professores que vamos utilizar e que vamos engajar os alunos e até motivar os colegas. Começa da equipe gestora mostrar a motivação e vai até os professores e o restante da escola”, ressalta.

Além da compra de tecnologia em si, é preciso comprar a “ideia” de uso dessas ferramentas, sugere a educadora. Em alguns momentos da carreira, ela presenciou diferentes situações em que gestores adquiriram tecnologia por pressão e com desinteresse na efetividade da proposta, o que impactou diretamente em como os docentes receberam esses materiais.

“É preciso que os gestores tenham, pelo menos, o conhecimento mínimo do uso dessas tecnologias, e não somente repassá-la aos professores. E também que sejam capazes de ouvir os professores, com antecedência, sobre o que eles gostam ou não e por que”, pontua.

“Se o gestor escolhe uma plataforma, equipamento ou dispositivo em que os professores não tiveram nenhum tipo de envolvimento na decisão e seleção, isso complica até o engajamento para o uso, porque eles não conseguem enxergar como essas tecnologias podem apoiar no alcance dos objetivos educacionais”, afirma.

Essa ponte entre docentes, gestão e tecnologia, segundo Larissa, é amparada justamente na formação de professores. A ferramenta de avaliação de competências digitais desenvolvida pelo Cieb, online e gratuita, que possibilita aos docentes da educação básica identificarem suas competências digitais para que possam se desenvolver profissionalmente. Mais de 100 mil professores já fizeram suas avaliações e os resultados mostram que a média está no nível inicial.

“A figura do coordenador pedagógico e de tecnologia é forte nesse processo de formação continuada, que precisa contemplar ações em que os professores experimentem essa tecnologia”, diz. Isso se dá para que os educadores possam desenvolver uma mudança de visão, se for necessário, e também colocá-los em uma posição de protagonistas do uso de tecnologias.

Para Laís, é preciso não só uma formação mais técnica, como também pedagógica sobre possibilidades de uso. Além disso, ela acredita que os docentes devem se apropriar do uso dessas ferramentas explorando-nas, tirando dúvidas e procurando conhecer ao máximo os benefícios. “Assim, eles passam a ter segurança nessa utilização, o que vai ser refletido no envolvimento da turma e resultado dos estudantes”, completa.

Fonte: Portal Porvir - Ruam Oliveira

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