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Formação do professor: dar aula é aprender durante toda a vida, diz Rachel Lotan

Em palestra virtual, Rachel Lotan, da Universidade de Stanford, fala que teoria e prática devem andar de mãos dadas para garantir uma boa formação docente*

“Como foi a sua preparação e a sua formação como professor?” A resposta para essa pergunta, de acordo com a renomada educadora Rachel Lotan, diretora do programa de formação de professores da Universidade de Stanford (Estados Unidos), costuma ser sempre a mesma: “Fui para a universidade e não havia conexão entre o que aprendi e o que vivenciei em sala de aula”.

Para debater os princípios de uma formação docente efetiva, Rachel foi uma das convidadas do Seminário Internacional Sesi Senai de Educação, evento realizado em Brasília (DF) nos dias 16 e 17 de março. Defensora de uma sala de aula democrática e com equidade, a especialista garante que a docência é uma profissão de aprendizagem ao longo da vida: “Hoje formo universitários em Stanford, mas já fui professora de ensino médio. Gosto da docência porque, durante todo esse tempo, eu sempre aprendi algo”.

Há quem diga que ensinar não seja uma profissão, provoca Rachel, por boa parte da população ter frequentado uma sala de aula por 12 anos. “Ensinar é um ato moral e político e a docência é uma profissão, há um compromisso com a sociedade. Ensinar torna todas as outras profissões possíveis”, ressalta.

Uma das autoras do livro “Planejando o Trabalho em Grupo: Estratégias para Salas de Aula Heterogêneas” (Editora Penso, 2017), Rachel diz que, além do conhecimento do conteúdo, é preciso ensiná-lo no contexto da perspectiva para a justiça social. “Professores precisam conhecer seus aprendizes e seus contextos para criar e aprofundar relacionamentos. O cerne de tudo é se importar com o interesse do estudante, além de respeitar os direitos e responsabilidades da nossa comunidade escolar e de outros professores”, complementa.

Qualidade na formação

A norte-americana ressalta que os programas de formação de professores devem se basear em alguns pontos fundamentais para ter qualidade. Não podem ser meramente replicados: o contexto é um dos primeiros pontos a ser identificado. Outra questão fundamental é conectar a qualidade do currículo acadêmico com a prática. “Todos os meus alunos leram Paulo Freire. É preciso se certificar: o que você ouve na universidade, a teoria a respeito de Piaget e Vygotsky, precisa estar conectada com a prática”, ressalta.

Neste sentido, formar a próxima geração de professores deve ser um trabalho conjunto; por isso, escolas e universidades devem estar em constante interação. Em Stanford, comenta ela, os universitários do programa de formação de professores dirigido por Rachel têm aulas à tarde e passam as manhãs com professores já experientes, aprendendo com questões práticas da sala de aula.

“A qualidade das conexões entre o currículo acadêmico e a prática é o DNA da formação de professores, tudo se resume a conectar esses dois pontos”, enfatiza Rachel. “Você não deveria fazer uma tarefa na universidade se não estivesse ao mesmo tempo em sala de aula, onde passa a conhecer os seus alunos, certificando-se que eles são o ponto mais importante com o qual se preocupar.”

Equidade e excelência

Quando o debate é sobre aulas com equidade, normalmente as pessoas as associam ao fato de que seriam classes para crianças menos privilegiadas. Mas isso não está correto. “Quando falo em equidade, quero salas de aula com diversos tipos de alunos, de diferentes setores, de diferentes níveis sociais, para que todos tenham oportunidades. A equidade é verdadeira apenas quando todos os alunos têm acesso a caminhos de aprendizagem que levam a um desempenho e a um resultado de excelência”, explica Rachel.

Para a diretora, reconhecer uma sala de aula equitativa e democrática significa contar com interações igualitárias entre os alunos e com o professor, com uma participação coletiva. Todos os estudantes devem ter diversas oportunidades de demonstrar aquilo que sabem e as diferentes formas como compreendem a disciplina específica que está sendo aprendida, define Rachel. “A excelência na educação não existirá se não for equitativa e se apenas um grupo seleto da sociedade for privilegiado suficientemente para alcançá-la”, finaliza.

*O jornalista viajou a convite do Sesi

Fonte: Portal Porvir - Vinícius de Oliveira

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