Estudantes aprendem física enquanto tomam açaí em praça de Aracruz (ES)
Com o retorno presencial após dois anos de distanciamento, os alunos da escola EEEFM Misael Pinto Netto, em Aracruz (ES), chegaram ao 3º ano do ensino médio com baixo rendimento. A reclamação era que não tinham base suficiente para cursar a série. Pensei, então, em como criar em um plano de nivelamento, com aulas nas quais os conteúdos de física das séries anteriores pudessem ser aplicados sem afetar a série atual.
Também queria apoiar os jovens de outras escolas, em situação de vulnerabilidade, que não tinham condições de participar de cursinhos preparatórios para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Desenvolvi, então, o FísicAçaí, um projeto voltado ao nivelamento da aprendizagem em ambiente não formal. As aulas acontecem no meio da praça Monsenhor Guilherme Schmitz, no centro de Aracruz, a 200 metros da escola Misael Pinto Netto. Entre um açaí e outro, os alunos revisam conteúdos de física.
Em parceria com empresários da cidade, é possível oferecer açaí a baixo custo, para a manutenção do projeto. Mesas e cadeiras das lojas ao redor, que também apoiam a iniciativa, são distribuídas pela praça. Situações-problema são resolvidas no quadro móvel cedido pela escola, os “aulões” são sempre acompanhados de experimentos de física. Apenas as anotações no caderno são permitidas: evitamos o uso do celular para não causar distração. Assim, cria-se um ambiente prazeroso de aprendizagem que, ao mesmo tempo, busca aprimorar as habilidades de concentração e foco, uma vez que a praça tem muitos atrativos. Quando o projeto foi criado, em 2019, funcionava uma vez por semana e contava com 45 alunos. Neste ano, as aulas de FísicAçaí acontecem duas ou três vezes por semana: aproximadamente 400 alunos se revezam para assisti-las. A iniciativa hoje faz parte do projeto político-pedagógico da escola, com um banner de identificação na praça.
Realizei essa aula também na Praia de Coqueiral e no Parque Biológico Augusto Ruschi, na cidade vizinha chamada Santa Tereza. Nesses casos, além do nivelamento e da preparação para o Enem, o objetivo foi trabalhar a sustentabilidade como Projeto de Vida.
A proposta para 2023 é realizar o projeto em parceria com as escolas da região, tanto públicas quanto privadas, e dinamizar as aulas com os professores de cada instituição para a iniciativa ficar ainda mais atraente.
O que é preciso para que outros professores repliquem o projeto em suas cidades?
Não há nada de misterioso nesse projeto. Apenas que o professor escolha um lugar agradável em sua cidade e que faça parceria com algum empresário (que não precisa ser necessariamente do ramo de açaí). Caso a cidade não tenha empresas grandes, peça para cada aluno levar um lanchinho. O objetivo é tornar a aula prazerosa.
Fabrício Antunes - Mestre em ensino de física e especialista em educação profissional e tecnológica pelo IFES (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo), tem licenciatura em física e em pedagogia pela UFES (Universidade Federal do Espírito Santo).
Fonte: Portal Porvir - Fabrício Antunes