Desafios da empregabilidade em tempos de IA: a aliança entre tecnologia e profissionalismo
A Inteligência Artificial (IA) se destaca como uma força transformadora no mundo da educação ou no trabalho, e é natural surgirem preocupações sobre seu impacto na empregabilidade. Entretanto, há alguns anos já falávamos sobre as profissões do futuro e o quanto os colaboradores precisam desenvolver habilidades digitais para continuarem relevantes.
Ou seja, essa não é uma discussão de hoje e não representa uma ameaça à existência de empregos, mas sim uma oportunidade de evolução e aprimoramento profissional.
De acordo com o relatório "Inteligência Artificial: análise aprofundada do mercado", da Statista e publicado pelo GoTo, o valor global do mercado de IA deve disparar, crescendo 36,6% por ano até o fim de 2030. Se a tendência de crescimento atual se manter como o previsto, esse mercado terá o valor de US$ 420,5 bilhões até 2025 e cruzará a marca de US$ 1 trilhão até 2028. O levantamento é uma amostra do quanto essa tecnologia vem crescendo e pode impactar o mundo.
A capacidade de automatização de diversas tarefas pela IA é inegável. No entanto, sua verdadeira promessa reside na complementação das habilidades humanas. Desde que sejam acompanhadas de capacitação e educação contínua, essas tecnologias emergentes têm o potencial de se tornarem aliadas valiosas no desenvolvimento das atividades profissionais, em vez de substitutas.
É possível tornar ambientes cada vez mais colaborativos e inovadores, otimizando o tempo entre as tarefas e direcionando o foco para o que realmente importa. Isto é, o objetivo é que sobre tempo!
Com esse tipo de ferramenta, já é possível observar um aumento no percentual de produtividade em muitos países, principalmente naqueles que já começaram a adotar a IA nos processos e no trabalho diário. Ainda segundo o levantamento da Statista, alguns dos países que se destacam pelo ganho de produtividade são Japão, Alemanha e França.
Porém, quem deve registrar o maior crescimento de produtividade é a Suécia, projetando 37% até 2035. Na sequência é possível observar a Finlândia (36%), Estados Unidos possivelmente adquirindo um aumento de 35% na produtividade, e o Reino Unido com 25%.
Ao longo da história, a inovação sempre gerou mudanças no mercado de trabalho. A diferença agora é a velocidade e a amplitude dessas mudanças, impulsionadas pela sua rápida evolução. É o que indica o Índice de Tendência do Trabalho de 2024, divulgado pela Microsoft e o LinkedIn.
Segundo o relatório, 75% dos trabalhadores usam IA no trabalho enquanto 60% dos líderes dizem que a empresa não tem uma visão e plano para implementá-la, ou seja, os próprios colaboradores estão aderindo antes mesmo das empresas.
Com menos adesão das empresas, cerca de 78% dos usuários de IA estão trazendo suas próprias ferramentas para o trabalho e isso pode gerar uma exposição de dados que, consequentemente , pode evoluir para um problema de segurança. Esse é mais um motivo para que as empresas e gestores estejam junto na jornada de uso dessas ferramentas, inclusive orientando sobre possíveis problemáticas, como vazamento de informações, gerando conscientização corporativa.
Apesar das inúmeras vantagens oferecidas por esse recurso, é importante ressaltar que, por mais avançado que seja, ainda é limitada pela base de dados e treinamento de máquina por seres humanos. Sendo assim, a IA pode replicar o que já existe, mas não possui a capacidade de inovar ou de substituir completamente as habilidades humanas.
Portanto, em vez de temer a substituição, os profissionais devem abraçar a oportunidade de se adaptarem e se reinventarem em um ambiente cada vez mais tecnológico.
A pesquisa “Global Views On A.I. 2023” indica que 66% dos brasileiros estão animados com o uso da tecnologia, apesar de metade (51%) ainda estarem apreensivos com produtos ou serviços que utilizam IA. Pelo menos 64% acreditam que há mais benefícios que desvantagens. Já uma pesquisa conduzida pelo LinkedIn e divulgada em 2023, pontua que 74% dos profissionais preveem que a IA transformará suas rotinas profissionais neste ano.
No setor educacional também existe um certo receio no que tange o uso dessa tecnologia. A utilização da ferramenta pelos alunos trouxe diversos questionamentos sobre qual seria o impacto na forma de avaliação de professores e estudantes, se o formato das aulas seria o mesmo e até em como o pensamento crítico dos estudantes seria afetado.
Porém, o cenário indica que os professores foram os primeiros adeptos dessa tecnologia para otimizar a preparação das aulas, exercícios, avaliações entre outras atividades, assim como aponta uma pesquisa realizada nos Estados Unidos pela Fundação Walton.
Nela, 51% dos docentes responderam que utilizam o ChatGPT, enquanto apenas 31% dos alunos faz uso dessa ferramenta. Além disso, a maioria dos estudantes (65%) e professores (71%) concorda que a inteligência artificial será um recurso essencial para o sucesso na educação e na carreira. Provando, mais uma vez, que a adoção de novas ferramentas depende de pensarmos fora do óbvio e somar esforços ao invés de tentar substituir tarefas cotidianas.
Os desafios no mercado de trabalho em tempos de IA não devem ser vistos como uma ameaça, mas como um convite para aprimorar e valorizar as habilidades humanas como criatividade, empatia, raciocínio crítico, aprendizagem contínua, pensamento analítico, resiliência, flexibilidade, agilidade, tão fundamentais para a interação humana e tomada de decisões complexas.
Com a devida capacitação e um olhar proativo para o futuro, a tecnologia se torna uma aliada poderosa na busca por um mercado de trabalho mais dinâmico, inovador e humano, e que tende a mostrar o surgimento de novas formas de trabalho e profissões para serem exploradas, principalmente na área tecnológica.
Mariane Lorenzetti é Head de Operações na Ada.
Fonte: Portal TecMundo - Mariane Lorenzetti