Dados auxiliam liderança escolar a aperfeiçoar projeto de tecnologia
Acompanhamento dos indicadores é fundamental para garantir sucesso nos projetos educacionais e recalcular rotas caso necessário.
Quem sai de São Paulo e vai até Roraima precisará percorrer 3.175 quilômetros. Essa é a distância entre ambos os estados. A estimativa é de que levaria em média 5 dias e 18h para quem decide pegar a estrada e ir de carro da capital paulista até Boa Vista. Isso pensando em um plano inicial, sem que aconteçam sobressaltos, sem que se decidam parar no meio do caminho para aproveitar a vista, para conhecer algo novo. Mas essa medida pode mudar se, por ventura, os viajantes optarem por uma dessas situações ou algo inesperado os encontrar pelo caminho.
Quando se pensa em planejamentos, é importante que também estejam no horizonte que os caminhos até os objetivos podem variar e mudar. E uma maneira de observá-los é prestando atenção aos dados e indicadores que o próprio trajeto apresenta.
Trazendo para a área da educação e inovação, o planejamento de um projeto tecnológico requer que, a fim de alcançar os objetivos, indicadores de resultados sejam sempre levados em consideração. Não se espera consertar um projeto somente depois que ele não deu certo.
Um gestor pode enfrentar problemas no momento de implementação do projeto tecnológico, mas até que o projeto seja completamente interrompido é preciso que ele tenha sido impactado por uma série de eventos. “Dificilmente uma [única] coisa vai parar definitivamente um projeto, e quando a gente acompanha, esses problemas são tratáveis”, avalia Guilherme Camargo, gerente de projetos educacionais e fundador da Sejunta Tecnologia, Apple Authorized Reseller.
Os dados que são gerados pelo projeto tecnológico precisam estar em vista da liderança até mesmo antes de o projeto ter sido iniciado, comenta Guilherme. É por meio desses indicadores que as estratégias vão ser definidas, esclarecidas ou recalculadas.
Durante a pandemia, quando as aulas precisaram passar de presenciais para um ambiente online, Leandro Meneses da Costa, coordenador pedagógico da Escola Interativa, em Londrina (PR), recebeu alguns retornos não muito positivos sobre a plataforma escolhida inicialmente para abrigar as aulas em vídeo. A comunidade manifestou descontentamento com a que havia sido escolhida pela escola por entender que dificultava o acesso dos alunos. Então, para alcançar um melhor resultado de aprendizagem, um dos objetivos da escola, optou-se por mudar de plataforma. Assunto resolvido.
Os dados e indicadores que apontam para o sucesso de um projeto tecnológico podem vir da própria comunidade escolar. Leandro destaca o quanto é importante que a liderança esteja atenta a esses diferentes atores para captar melhor os dados. “O que mais a gestão tem que entender quando for criado um indicador, seja aquele que vai mostrar o sucesso ou não da intervenção, é quais são os parceiros que vão potencializar a tomada de decisão. Não é só o mantenedor ou o diretor, existem núcleos”, afirma.
Quando se existe um viés metodológico de aprendizagem, por exemplo, é inevitável trazer o professor para a discussão, destaca o coordenador. Para ele, o educador precisa se entender dentro do processo e participar da construção da proposta. Inclusive porque parte dos indicadores sairá da relação entre ele e os estudantes.
Ultrapassados obstáculos relativos à formação de professores e autonomia no uso de ferramentas, Leandro aponta que os dados na instituição onde atua são vistos de maneira qualitativa, mesmo que coletados quantitativamente, a fim de refinar o processo.
Recalculando a rota
Cada escola é única e, portanto, precisa coletar informações sobre o impacto da implementação de tecnologias antes mesmo de alcançar o resultado final. Guilherme aponta que é essencial o acompanhamento e que ele seja feito com uma periodicidade pré-estabelecida pela instituição. Não existe uma fórmula para realizá-lo – como a cada três meses, a cada seis meses, ou mensal.
Apesar da importância, os indicadores não devem ser aquilo que define o projeto tecnológico, mas sim serem definidos a partir dele, ressalta o fundador da Sejunta. A depender de quais sejam os objetivos da instituição, os indicadores aparecem como ferramenta que estabelece se as ações tomadas até determinado ponto caminham para o cumprimento dos objetivos pedagógicos ou não.
Ele ressalta que algumas empresas investem uma quantia significativa de dinheiro na compra de tecnologia sem ter os objetivos claros, quando não se trata apenas da compra de dispositivos móveis, por exemplo, mas de qual seja a expectativa ao usá-los em sala de aula.
Uma estratégia para aperfeiçoar o projeto quando indicadores apontam erros no processo é dividir esses problemas em “fatias menores”, sugere Guilherme. Ou seja, observar e tratar os detalhes para que a composição do todo não seja comprometida. “Conquistas menores fazem da conquista maior uma realidade e possibilidade. Se focar só lá em cima, fica difícil acompanhar a meta”, diz.
Um pneu que fura durante uma viagem, por exemplo, é um problema. Quando o carro começa a soltar mais fumaça do que é previsto, também é um sinal de que algo não está bem. O que não significa que a viagem deva ser cancelada, apenas reajustada para que consertos possam ser feitos. Assim também funciona um projeto pedagógico: os objetivos dificilmente se alteram – seja melhorar o engajamento dos alunos, seja aperfeiçoar o método de lecionar de um professor. O que pode mudar, sim, são aspectos do percurso que, como dito anteriormente, podem ser tratados pontualmente.
“É muito difícil fazer uma gestão sem inferências. É muito complexo delimitar caminhos sem se apoiar em alicerces ou ter objetivos claros. E é mais difícil ainda tentar projetar algo se você não consegue mensurar se foi ou não significativo para escola”, aponta Leandro. Nesse sentido, indicadores são suportes e não norteadores. É calibrar os pneus para garantir que o carro chegará ao seu destino final.
Parceria Porvir com Se Junta
Fonte: Portal Porvir - Ruam Oliveira