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Conectividade avança nas escolas, mas faltam dispositivos para professores e alunos

Pesquisa TIC Educação traz melhora nos índices de conexão à internet e alerta para a falta de computadores, especialmente em escolas municipais ou rurais. Outro ponto de atenção é a menor oferta de cursos de formação para o uso de tecnologias em sala de aula

No pós-pandemia, a conectividade avançou nas escolas brasileiras, o acesso a uma conexão de internet de melhor qualidade foi ampliado, mas tanto professores como alunos ainda enfrentam dificuldades para se beneficiar do uso de tecnologia em sala de aula por conta da falta de computadores. Em razão desse déficit de dispositivos, o uso ainda é restrito ao consumo, permitindo pouco trabalho autoral por parte dos estudantes.

Esse raio X da conectividade na escola foi apresentado nesta segunda-feira (25) na pesquisa TIC Educação, projeto conduzido pelo Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), do NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR) foi realizada nesta segunda-feira (25) durante coletiva de imprensa na sede do NIC.br, em São Paulo (SP). Você pode rever essa transmissão no canal do NIC.br no YouTube.

Na edição de 2022, pela primeira vez, em uma mesma coleta de dados, foram entrevistados gestores escolares, coordenadores pedagógicos, professores e estudantes de escolas localizadas em áreas urbanas e rurais. Com isso, chegou-se a um total de 10.448 respostas em 1.394 escolas públicas (municipais, estaduais e federais) e particulares. Os pesquisadores entrevistaram 959 gestores escolares, 873 coordenadores, 1.424 professores e 7.192 alunos.

Entre outros destaques, a pesquisa mostra que 84% dos professores atribuem à falta de computadores tanto para si quanto para os estudantes como motivo para não adotar tecnologias digitais em sua prática pedagógica. Diante desse cenário de desigualdade persistente no acesso a dispositivos, o celular continua sendo muito usado, seja para ler textos indicados pelos professores, fazer pequenas apresentações ou mesmo pesquisas simples.

Desde que a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) trouxe um alerta sobre o uso excessivo de telefones celulares por parte de crianças e adolescentes, muitas escolas optaram por proibir seu uso.

No entanto, quando se olha para uma amostra nacional e para as desigualdades de acesso que a pesquisa TIC Educação consegue captar, essas medidas precisam ser tomadas de forma consciente. “O que os dados mostram é que existe uma necessidade de refletir sobre o uso do celular nas escolas. Como e por que ele acontece. Quando há uma restrição ou proibição ao uso, corremos o risco de inviabilizar oportunidades de aprendizagem para estudantes que enfrentam outras dificuldades”, diz Daniela Costa, coordenadora da pesquisa. “Professores e alunos fazem uso desse dispositivo então escolas devem promover um maior debate sobre como pode ser mais bem aproveitado, com um uso crítico, seguro e responsável”.

Obstáculos para a conectividade nas escolas

A maior parte das instituições de ensino fundamental e médio conectadas possuem acesso à Internet disponível para uso dos alunos em ao menos um de seus espaços (80%). Tanto nas escolas particulares (66%) quanto nas municipais (60%), esse acesso acontece, sobretudo, dentro da sala de aula. Já nas escolas estaduais, os laboratórios de informática (67%) e as bibliotecas ou salas de estudos (66%) são os espaços predominantes.

Entre os fatores que afetam a conexão, situações tais como o sinal de Internet não chegar às salas que ficam mais distantes do roteador (55%), a internet não suportar muitos acessos ao mesmo tempo (50%) e a qualidade da internet ficar ruim (41%) ocorrem com maior frequência nas escolas estaduais. Nas instituições particulares, estes aspectos são também citados, mas com porcentagens inferiores: 21%, 15% e 14%, respectivamente.

Já nas municipais, o principal obstáculo apontado foi o fato de a Internet não suportar muitos acessos ao mesmo tempo (45%), seguido de o sinal de Internet não chegar às salas que ficam mais distantes do roteador (38%) e da qualidade da Internet ficar ruim (35%).

Por que a tecnologia não é usada

Os docentes também percebem os aspectos relacionados à conectividade como obstáculos ao uso das tecnologias digitais em atividades de ensino e de aprendizagem. A falta de disponibilidade de computadores para uso dos professores ou dos alunos na escola (84%) e a falta de acesso à Internet para uso em atividades educacionais (53%) estão entre os principais motivos para não utilizarem tais recursos com os estudantes. A dispersão dos alunos durante o uso de tecnologias digitais nas aulas é também citada por 46% dos professores.

Quando questionados sobre o porquê de não usar internet na escola, os estudantes elencam ainda outros aspectos, como o fato de os professores não utilizarem internet em atividades educacionais (64%), de a escola proibir o uso do telefone celular (61%) ou proibir o acesso à Internet para os alunos (46%).

“A apropriação dos recursos digitais por estudantes e educadores na criação de oportunidades de aprendizagem e na construção de conhecimentos é o que torna a conectividade, de fato, significativa na educação. Com base nos dados, é possível constatar o quanto a presença e a qualidade da conectividade nas escolas podem afetar as oportunidades de uso dos recursos educacionais nas atividades de ensino e de aprendizagem”, afirma Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br/NIC.br.

Velocidade e qualidade da internet nas escolas 

De acordo com a nova edição da pesquisa, 99% das escolas particulares e 93% das escolas públicas possuem acesso à Internet, proporção que é de 97% entre as escolas estaduais e de 93% entre as escolas municipais. Nas áreas rurais, 85% das instituições estão conectadas.

Em relação à qualidade do acesso à Internet, 52% das escolas estaduais e 46% das particulares declararam possuir 51 Mbps ou mais de velocidade da principal conexão da instituição, proporção que é de 29% nas escolas municipais. Os números trazem um avanço em relação ao que se viu no início da pandemia, tanto em acesso quanto na velocidade da conexão que chega às escolas.

Em 2020, 52% das escolas rurais contavam com acesso à Internet, enquanto esse percentual era de 79% nas escolas localizadas no interior e de 71% entre as escolas municipais. Apenas 22% das escolas estaduais e 11% das escolas municipais possuíam velocidade da principal conexão à Internet igual ou superior a 51 Mbps.

Conectividade para estudantes

Já quando se considera apenas as escolas que possuem simultaneamente computador e acesso à Internet para uso dos estudantes, esta presença é maior entre as escolas estaduais (82%) e particulares (73%), enquanto somente 43% das escolas municipais disponibilizam ambos os recursos tecnológicos, conforme a edição 2022 da pesquisa.

Entre as escolas que oferecem computadores para a realização de atividades de ensino e de aprendizagem, uma maior presença de dispositivos foi observada nas instituições estaduais – onde 86% contam com notebook, desktop ou tablet para uso dos alunos – nas escolas localizadas em capitais (79%) e naquelas que ficam em áreas urbanas (78%). Por outro lado, as instituições municipais (49%); as que estão localizadas em cidades do interior (61%) e em áreas rurais (38%) apresentam menores patamares neste indicador.

Formação de professores para tecnologia

Para 75% dos docentes, a falta de um curso específico dificulta a adoção de tecnologias digitais nas atividades educacionais com os alunos.

A pesquisa também mostrou que houve uma redução na oferta de formação continuada para o uso das tecnologias em sala de aula. Em 2021, 65% dos docentes apontaram ter participado de uma formação com esse objetivo, índice que agora se apresenta menor (56%) na edição da pesquisa de 2022.

Daniela acrescentou que houve mudança em alguns temas abordados nessas formações, como, por exemplo, aspectos relacionados ao ensino híbrido e educação a distância. Ela avalia que a presença menor desses assuntos esteja relacionada à demanda atual, quando as escolas vivem um processo de pós-pandemia e de maior interação presencial.

O uso de tecnologias na avaliação, proteção aos dados e privacidade e licenças de uso de recursos encontrados na internet também apareceram menos nas formações que os professores que responderam à pesquisa participaram.

Um movimento contrário se deu no caso das notícias falsas e compartilhamento responsável online, que foi um tópico mais explorado – indo de 32% para 36% de incidência nas formações.

“Vale ressaltar que há uma estabilidade na busca dos professores sobre [temas como] desinformação, fake news e proteção de dados”, afirmou Daniela.

A pesquisa destacou também que quem promove essas formações, no caso das escolas da rede pública, são os governos e secretarias. Já as escolas particulares fornecem essas formações de maneira própria ou contratando empresas especializadas.

Desdobramentos dessas formações 

O acesso a uma formação continuada também se traduz na maneira como assuntos complexos são abordados dentro da sala de aula. “Essa busca por informações pelos professores está refletida nesses dados sobre a importância de disseminar aos alunos e toda a comunidade escolar informações sobre o uso crítico e seguro das tecnologias e do desenvolvimento de habilidades nas escolas”, aponta Daniela.

Os dados da nova pesquisa TIC destacam que 61% dos professores relataram ter apoiado seus alunos no enfrentamento de situações consideradas sensíveis na internet. Esse índice era de 49% em 2021.

Houve um aumento desse apoio em casos de uso excessivo de jogos e tecnologias digitais (46%), cyberbullying (34%), discriminação (30%), assédio (20%) e vazamento de imagens sem consentimento (26%).

Realizada desde 2010, a pesquisa TIC Educação tem o objetivo de investigar a disponibilidade de (TIC) tecnologias de informação e comunicação nas escolas brasileiras de ensino fundamental e médio e o seu uso e apropriação por estudantes e educadores.

Você pode rever essa transmissão no canal do NIC.br no YouTube

Baixe a apresentação no site do NIC.br.

Fonte: Portal Porvir - Ruam Oliveira / Vinícius de Oliveira

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