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Compromisso com acessibilidade é primeiro passo para criação de conteúdo inclusivo

Entender que a produção de conteúdos inclusivos é uma tarefa posterior à sensibilização pode fazer com que esse material seja produzido com mais intencionalidade

Dizer que a educação é para todas e todos pode até mesmo parecer um clichê. Isso é algo que todo mundo supostamente já sabe, não é? É possível, porém, perceber algumas lacunas nessa afirmação, que podem ser fechadas.

Quando se pensa em inclusão e acessibilidade, por exemplo, nem todo material pedagógico é adaptado para atender aos diferentes tipos de públicos presentes nas escolas. Por vezes, as instituições também não estão totalmente preparadas para realizar um trabalho inclusivo.

Com a tecnologia cada vez mais presente na rotina dos estudantes, há um espaço e uma oportunidade de desenvolver um bom trabalho de inclusão, utilizando ferramentas e plataformas como apoio pedagógico.

A professora Tatiana Mendes Garcia, coordenadora de Tecnologia Educacional da Escola Lourenço Castanho, em São Paulo, conta  que sua equipe foi em busca de ferramentas tecnológicas que pudessem colocar todos os estudantes no mesmo nível em termos de acesso aos conteúdos.

Usar contraste nas telas, lupa, ou aplicativos como o PowerPoint, são alguns dos exemplos citados por ela na hora de pensar quais estratégias adotar para trabalhar de maneira inclusiva.

“São duas coisas: a tecnologia auxiliar a inclusão e o aluno que está em situação de inclusão aprendendo a utilizar a tecnologia”, pontua Tatiana.

Criar conteúdos inclusivos, de acordo com Lígia Pinheiro Paganini, coordenadora pedagógica dos anos finais do ensino fundamental e especialista em práticas inclusivas na mesma escola de Tatiana, não requer grandes invenções. Para ela, a inclusão precisa estar presente previamente no projeto pedagógico da escola – e a tecnologia entraria em um segundo momento, para cumprir um propósito estabelecido dentro do projeto.

Lígia reforça que a inclusão é importante porque “o mundo é de todo mundo”. “A gente não pode afirmar o capacitismo (preconceito contra pessoas com deficiência), não é assim que funciona. A gente tem que entender que o mundo é feito de diferenças. Temos que trabalhar com as diferenças, e não contra elas.” A coordenadora ressalta que a escola é o lugar que ajuda a todos e todas a enfrentar o mundo e, portanto, ter uma visão agregadora e inclusiva é de extrema importância.

Preocupação prévia e mediação constante

Nesta mesma linha de raciocínio, Vera Cabral, diretora de Educação da Microsoft Brasil, reforça que o principal ponto de qualquer material ou conteúdo acessível é que sejam trabalhados com a acessibilidade em sua concepção. “Não se trata de apenas adaptar, mas de já pensar, desenhar, para que os conteúdos e processos sejam acessíveis. Os recursos de tecnologia são essenciais. Permitem que possamos ir muito além do que sequer imaginávamos há bem pouco tempo atrás”, diz.

Dentro desta esteira de pensamento, na qual  não é preciso propostas muito elaboradas, a criação de conteúdo focado na inclusão tende a ficar mais acessível. Alguns recursos dos próprios sistemas operacionais e aplicativos, como leitura em voz alta e ditado, já trabalham a questão.

No entanto, é necessário estar atento aos muitos tipos de deficiência. Lígia destaca que as deficiências de ordem física chamam mais atenção e têm mais literatura e ferramentas adaptativas. Contudo, é válido estar igualmente preocupado com pessoas com deficiências de outras ordens. Esse cuidado é importante para promover uma experiência de aprendizagem significativa para essas pessoas.

Juliana Amorina, diretora presidente do Instituto ABCD, destaca que priorizar múltiplos meios de apresentação dos conteúdos curriculares e investir em mediação constante da aprendizagem e engajamento dos alunos elimina inúmeras barreiras que impactam negativamente o desenvolvimento escolar, cognitivo e afetivo de crianças e adolescentes.

“Todo estudante se beneficia do ensino inclusivo, independentemente do diagnóstico de transtorno específico de aprendizagem ou deficiência, porque cada pessoa tem seu próprio ritmo e sua maneira de aprender. Quando isso é considerado, ninguém fica para trás”, reforça Juliana.

Participação da comunidade e formação

Na escola, o trabalho voltado à inclusão não deve envolver apenas os professores no período de sala de aula, mas a comunidade como um todo. “A equipe inteira tem que estar afinada, desde a portaria – quando o aluno entra – até a portaria de novo”, sugere Lígia.

O grande desafio está, também, no engajamento de educadores sobre o tema. A produção de conteúdo inclusivo requer formação e sensibilização que podem ser promovidas pela escola. Essas formações representam um fator muito importante para a realização de um projeto que se propõe acessível.

“Na maioria dos casos, as formações se reduzem à reprodução de práticas descontextualizadas do ambiente escolar de cada escola, sem discussões mais aprofundadas sobre os fundamentos da educação”, analisa Mara Sartoretto, pedagoga e diretora da Assistiva Tecnologia e Educação. “Isso impede uma reflexão mais robusta sobre os padrões de normalidade, socialmente construídos por uma sociedade que classifica e categoriza pessoas em normais e anormais – cujo maior objetivo é a transmissão de informações e não a construção de conhecimentos para a vida em sociedade onde se respeite os direitos de todos, sem distinção”, complementa.

Mara também aponta que gestores escolares são fundamentais para a formação continuada dos professores e devem dar condições aos mesmos de oferecer aos alunos com deficiências acessibilidade às tarefas pedagógicas, para que possam ser incluídos como um direito e não como um favor.

“Isso se faz com espaços de formação planejados de forma colaborativa com todos os professores e funcionários, partindo das reais necessidades da escola, com o protagonismo dos seus integrantes. As mudanças sugeridas e os estudos realizados, inclusive o planejamento e as opções de acessibilidade, devem se refletir na sala de aula e constantemente avaliadas e readequadas”, diz.

Boas experiências para todos

Não é preciso ser expert em cada tipo de deficiência ou condição para criar bons materiais inclusivos. Juliana Amorim reforça que a avaliação educacional permite que o educador entenda as dificuldades e potencialidades de cada aluno para construir planos de aula que atendam às suas necessidades.

“O professor que pensa de forma inclusiva e se esforça para conhecer cada estudante vai ganhando experiências e conhecimentos que vão lhe permitir ajudar cada vez mais crianças no futuro. Esse educador, preocupado com a inclusão pode, inclusive, buscar informações e formações específicas quando se deparar com uma situação mais desafiadora”, ressalta.

E todo esse material produzido deve ser feito com naturalidade, compreendendo que é parte inerente do processo educativo dar condições para que todas e todos possam se desenvolver e aprender.

“É importante esclarecer que acessibilidade é sobre criar boas experiências para todos, pois a deficiência está nos ambientes e não nos indivíduos”, afirma Lívia Ferreira, líder de e-commerce para a Microsoft América Latina e líder de Acessibilidade na Microsoft Brasil. “Aqui cabe o conceito de que a deficiência não deve ser vista como uma condição de saúde pessoal – ela está relacionada a interações incompatíveis com os ambientes, podendo ser situacionais (segurando um bebê no colo), temporárias (quebrou o braço) ou permanentes”, destaca.

A Microsoft possui um “Verificador de Acessibilidade”, disponível para Outlook, Word, Excel, PowerPoint e OneNote. A ferramenta apoia a criação e adaptação de documentos do Office, para que todos os alunos acessem conteúdos e materiais da aula. O Verificador de Acessibilidade faz uma revisão no documento e, por meio da Inteligência Artificial aponta possíveis correções. Antes de enviar uma mensagem ou compartilhar um conteúdo, por exemplo, é possível executar o Verificador de Acessibilidade para garantir que a mensagem está acessível.

Fonte: Portal Porvir - Ruam Oliveira

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