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Como o ChatGPT pode inspirar transformações na escola

Mantenedores, gestores e professores têm a oportunidade refletir e responder questões essenciais: Qual o papel da escola? Para que, o que e como ensinar?

O ChatGPT, programa de computador que utiliza a inteligência artificial para conversar com o usuário, tem causado furor no setor educacional. O sistema demonstra facilidade em realizar tarefas que vão desde tradicionais exercícios típicos de lição de casa até provas de final de trimestre e exames para admissão em cursos de graduação e pós-graduação (ver matéria anterior sobre ChatGPT no Porvir).

Os primeiros comentários, restrições e desdobramentos tinham como objetivo combater o plágio e atitudes antiéticas por parte de alunos. Com mais pessoas conhecendo o ChatGPT, a cada dia é possível encontrar novas dicas, reflexões, alertas (muito importante ressaltá-los) e desdobramentos. Além do uso por parte dos alunos, já se tem uma perspectiva ampliada de potenciais benefícios para professores e gestores escolares e de ensino superior.

Entretanto, o grande potencial do uso desta modalidade de IA (Inteligência Artificial) está em se questionar, aprender e transformar o modelo de escola à luz da demanda e da pressão que este tipo de programa causa. Pesquisadores de IA desenvolveram uma área adicional que foi denominada Inteligência Aumentada, que estuda como utilizar a essa tecnologia baseada em enorme quantidade de dados para ampliar as capacidades humanas.

Ora, se temos a Inteligência Aumentada como uma combinação entre a Inteligência Artificial e a Inteligência Humana para aumentar as capacidades humanas, podemos pensar a escola no mesmo caminho. Com IA, ela seria uma “escola aumentada”, que combina a Inteligência Artificial e Inteligência Humana para melhorar as capacidades humanas.

Desse modo, além da importante tarefa de entender e mitigar os riscos do mal-uso do ChatGPT (e seus concorrentes) na escola, é importante refletir e urgentemente praticar maneiras de se apoiar neste tipo de programa para potencializar o impacto positivo da escola na vida de crianças, adolescentes e toda a comunidade escolar.

O contexto no qual vivemos e a realidade das escolas mudou repentinamente nos últimos três meses. É irresponsável desprezar o fato que um programa de amplo uso gratuito já é capaz de gerar respostas elaboradas às mais diversas perguntas, consegue ser aprovado e entrar em faculdades aqui e no exterior, tanto obtendo notas no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) que possibilitam o ingresso em boas faculdades e em exames para mestrado, por exemplo.

Considerando-se todos os riscos, incertezas e potenciais benefícios advindos da disponibilidade deste novo tipo de programa de inteligência artificial, talvez a melhor oportunidade que mantenedores, gestores e professores de escolas têm atualmente é, mediante esta nova realidade, refletir e responder questões essenciais: Qual o papel da escola? Para que, o que e como ensinar? Como transformar a escola para continuar sendo relevante e propiciar aprendizagem significativa neste novo contexto?

Contexto

Não é de hoje que a IA está presente nas escolas, com recursos que vão desde um corretor ortográfico em um processador de textos até uma plataforma adaptativa ou um tutor inteligente que consegueidentificar diferentes níveis de conhecimento dos alunos e propor sequências de exercícios e conteúdos personalizados. Você já viu este assunto no Porvir em “não ignore, faça bom uso”.

Atualmente, com o ChatGPT, é possível realizar tarefas de alunos como escrever textos diversos sobre qualquer assunto, resolver problemas matemáticos, responder questões abertas e de múltipla escolha e muitas outras atividades típicas que qualquer escola requisita.

Levando-se em conta os potenciais benefícios para o professor, é possível, por exemplo, pedir para que o ChatGPT elabore uma prova com tópicos específicos, questões dissertativas e de múltipla escolha e ainda apresente o gabarito.

No cotidiano da gestão escolar, a partir de uma expectativa de aprendizagem da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) o ChatGPT pode sugerir um plano de aulas de acordo com a sua disponibilidade e necessidade, com exercícios e avaliações (é possível pedir para construir e checar um plano de 10 aulas, com exercícios de revisão a cada duas aulas e atividades avaliativas a cada cinco aulas, requisitando inclusive a elaboração de questões com gabarito sobre os tópicos desejados).

Vale ressaltar que é sabido, e inclusive divulgado pelo próprio diretor-executivo da empresa OpenAi, criadora do programa, que o ChatGPT não é confiável para ser usado como resposta ou única fonte de aprendizado. O programa apresenta, na sua primeira tela, mensagens alertando para a possibilidade de as respostas não estarem corretas, que sua base de conhecimento (fatos e eventos) está atualizada somente até 2021 e que pode produzir conteúdo enviesado.

Mas isto não quer dizer que ele não seja valioso como um instrumento adicional de aprendizagem e uma potencial ajuda na realização de atividades de gestão e docência. E seja para o uso de gestores ou de professores em busca de um novo instrumento de aprendizagem a ser usado em atividades com os alunos, sempre deve haver uma revisão crítica do conteúdo gerado.

Ao propor o ChatGPT como instrumento de aprendizagem aos estudantes, já se considera a importância de a escola estar aberta e utilizar esta nova tecnologia. Mas qual o racional por trás desta opção?

Por que utilizar (e não proibir!) o ChatGPT

Um dos desafios da escola é propiciar aprendizagem significativa para todos os alunos. A aprendizagem é significativa quando leva em conta o contexto no qual o estudante está inserido e o uso social daquilo que está sendo estudado.

De maneira simplificada, deve conectar as matérias, os conteúdos e, principalmente, as expectativas de aprendizagem com o mundo real. É preciso dar significado para as horas, os dias os anos que se passa na escola. O mundo real ao qual o estudante tem acesso acontece tanto dentro quanto fora da escola e, cada vez mais, é acessado por meios digitais.

É papel da escola preparar crianças e jovens para isso. O estudante que tem acesso à internet em casa já vive em um mundo de possibilidades e acesso ao conhecimento que a escola precisa se adequar. Se não considerar esse cenário, corre o risco de estar se tornando não somente atrasada, mas principalmente irrelevante.

Além disto, a legislação brasileira, por meio da BNCC já explicita na competência geral de número 5 – Cultura Digital, a necessidade da escola propiciar as seguintes habilidades essenciais para a vida no século 21. Diz o texto: “compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.”

Portanto, a escola que quiser continuar relevante, valiosa e alinhada com as diretrizes legais para o desenvolvimento dos estudantes, não pode desconsiderar o ChatGPT. Ou seja, proibir o uso não é uma opção.

George R. Stein - Diretor da Geostein Engenharia de Aprendizagem. Professor e consultor em Mediação Docente Diferenciada / Aprendizagem para todos, Inovação para Aprendizagem, Inovação Social e Gestão. Autor, palestrante e mentor Internacional, associado na Reos Partners e Conselheiro na Labor Educacional. Doutor em educação: Currículo (PUC-SP), Engenheiro de Produção (Escola Politécnica), Especialista em Diferenciação de Ensino (Harvard Graduate School of Education), Gestão de Mudança e Inovação Social (MIT – Presencing Institute)

Fonte: Portal Porvir - George R. Stein

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