Aprendizagem para o domínio: por que é importante estar atento a isso?
Antes de seguir para o próximo conteúdo, é importante parar e verificar se os conceitos anteriores foram aprendidos em sua totalidade
Na rotina da escola, professores e professoras de diferentes áreas precisam cumprir com determinados conteúdos ao longo do ano. Mas será que os estudantes conseguem apreender o máximo possível dentro do período estipulado para esse aprendizado?
Muitas vezes, durante a trajetória escolar, diversos conteúdos são apresentados aos alunos sem que, ao mesmo tempo, sejam observados se eles foram de fato aprendidos. O Mastery Learning, que em português é traduzido como Aprendizagem para o domínio, tem como principal objetivo garantir que estudantes dominem os conceitos antes de desenvolver outros mais avançados.
Sabe quando o aluno não consegue resolver aquela equação porque fica com dificuldade no momento da divisão? Isso significa que ele ainda não dominou inteiramente o processo de divisão. E é justamente com isso que a aprendizagem para o domínio se preocupa.
Essa possível defasagem pode ser percebida somente em uma etapa seguinte, quando o ideal seria que ela fosse vista e solucionada antes que o estudante siga para o próximo conteúdo.
Amanda Campos, Líder de Conteúdo Internacional da Khan Academy, ressalta que o ideal seria que todos os professores e professoras conseguissem trabalhar o conteúdo de maneira a atingir o domínio. No entanto, é preciso compreender que os calendários fazem parte da realidade das escolas e, por isso, muitas vezes torna-se difícil buscar essa aprendizagem para o domínio.
“Acho importante a gente lembrar que o professor trabalha dentro de um sistema, tem um cronograma a seguir também. Então, [a ideia é] não colocar esse peso a mais nos professores, de que é possível esgotar todos os assuntos em sua totalidade”, comenta Amanda.
Uma das possibilidades é trabalhar com o conceito de maneira extraclasse, por meio de ferramentas digitais ou exercícios mais específicos. No caso da Khan Academy, por exemplo, é possível escolher trilhas variadas para que o estudante aprenda em seu próprio ritmo e, com isso, possa preencher possíveis lacunas de conhecimentos.
Dentro desta visão de aprendizagem para o domínio, a especialista afirma que é importante que educadores e educadoras estejam sempre se perguntando o quanto cada estudante está compreendendo os assuntos abordados. Para ela, é válido inclusive questionar até que ponto é benéfico manter as crianças aprendendo as mesmas coisas no mesmo ritmo e seguir em frente sem elas terem dominado o conceito.
Em muitas ocasiões, não é possível que os professores voltem muito o conteúdo para suprir as defasagens de aprendizagem dos estudantes. Isso porque com um novo ano letivo, a realidade é que há, também, novos conteúdos a serem passados.
A professora de matemática Natália De Nadai, Especialista Sênior em Educação Matemática da Khan Academy Brasil, aponta que é possível usar a aprendizagem para o domínio de maneira combinada com o conteúdo regular. De que forma? Retomando por meio de plataformas, ferramentas digitais e outros exercícios extras, conceitos que não foram dominados.
Ao trabalhar com aprendizagem para o domínio, a educadora afirma que é uma forma de conseguir diagnósticos sobre os níveis de aprendizagem de cada estudante e, assim, tentar equilibrar a balança.
Uma boa base
“Professores sabem que estudantes que não desenvolveram habilidades básicas, não terão uma base sólida para desenvolver novas habilidades”, aponta Kristen DiCerbo, diretora de aprendizagem na Khan Academy.
Sem essa base sólida, Kristen destaca que os estudantes podem despender uma quantidade de energia mental muito grande para trabalhar conceitos básicos, o que os deixa sem condições de olhar para novos conceitos.
De acordo com a diretora, as principais características do aprendizado para o domínio são:
1) Entender se um aluno dominou uma habilidade.
2) Para uma habilidade não dominada, fornecer instruções e práticas novas e diferentes.
3) Avaliar continuamente se o aluno obteve o domínio.
“Para os professores que estão começando, as chaves são, portanto, ter maneiras de avaliar se um aluno domina uma habilidade e permitir que os alunos que não dominam uma habilidade se envolvam em mais aprendizado e tentem a avaliação novamente”, afirma.
Ou seja, esse diagnóstico é importante – além de necessário – para traçar estratégias que possibilitem aos alunos desenvolver melhor suas habilidades e conhecimentos em conceitos fundamentais.
A educadora ressalta que, infelizmente, muitas escolas não estão preparadas para se engajar na aprendizagem para o domínio. Pelo contrário, observa que elas exigem que professores e professoras logo passem para o próximo nível, independentemente de o anterior ter sido ou não dominado, além de exigir notas com base em apenas uma única tarefa ou teste.
“Os professores podem não ser capazes de influenciar essas características sistemáticas de suas escolas. No entanto, em suas salas de aula, eles podem incentivar os alunos a fazer várias tentativas nas tarefas, permitindo que os alunos aprendam e tentem novamente. Eles podem permitir tempo individual durante o dia para que os alunos pratiquem habilidades fundamentais, mesmo enquanto a turma como um todo está passando para o próximo tópico”, sugere Kristen.
Para começar a trabalhar com esse tipo de abordagem, não é preciso necessariamente modificar inteiramente a maneira como sua escola está organizando o ensino. É possível começar aos poucos, incentivando estudantes a refazer ou rever conteúdos até conseguirem alcançar pontuações mais altas.
Uma dica é, a partir deste teste, tentar compreender quão bem os estudantes compreendem os conceitos apresentados depois de terem se dedicado por mais tempo a eles. Mudando em grupo
Trabalhar a partir de uma perspectiva de domínio da aprendizagem requer que mais atores da comunidade escolar estejam envolvidos. É importante quando um professor ou professora conhece o conceito e tenta reproduzir em sala de aula, porém é ainda mais importante que as gestões estejam abertas para ampliar o uso de novas abordagens e incluir mais pessoas no processo.
Natália destaca que, em seu período atuando como docente em sala de aula, um fator que muito lhe agradava era justamente a possibilidade de troca entre colegas. A cada nova descoberta socializada entre os demais, as chances de tornar o conhecimento ainda mais rico cresciam.
Ela ressalta que introduzir uma nova abordagem ou mostrar aos docentes plataformas digitais que podem ser usadas em sala de aula, não deve vir como algo mandatório, que sobrecarregue professores. “Não é obrigar, mas mostrar que existem diferentes opções”, diz.
Fonte: Portal Porvir - Ruam Oliveira