Ações na escola favorecem o protagonismo de crianças na proteção do meio ambiente
Entrevistadas em webinário sobre justiça climática promovido pelo Porvir destacam que cuidar do planeta deve ser trabalhado em diferentes etapas da vida
O cuidado com o meio ambiente e o respeito pelo planeta são missões de todas as pessoas. Essa foi uma das principais mensagens da participação de Érika Mayume Ozahata, diretora da CEI (Centro de Educação Infantil) Cantinho da Tia Isaura, localizada em São Paulo (SP), e Jahzara Oná, estudante de geociências e ativista socioambiental no webinário “Justiça Climática na Escola”, promovido pelo Porvir nesta quarta-feira (13). A conversa teve a mediação de Marina Lopes, editora de conteúdos especiais do Porvir.
E dada a urgência do tema, o trabalho de conscientização pode ter início logo na primeira infância. Érika contou que semanalmente leva os alunos do CEI, que têm por volta de 3 anos de idade, para realizar atividades pelas ruas próximas à escola para recolher material reciclado. Tudo isso de maneira lúdica, usando canções, literatura e jogos.
“Essa luta é de todos, independentemente das gerações”, afirmou Jahzara. Para a estudante, ouvir as crianças e os mais velhos, compreendendo os diferentes pontos de vista, também contribui para a construção da luta pela justiça climática.
Jahzara é moradora do Jardim Pantanal, bairro na zona leste da capital paulista que há décadas sofre com enchentes, e lembra que aprendeu muito com sua avó, que entendia que já tinha essa visão integral a respeito da natureza. “Se eu protejo o meio ambiente, também me protejo”, disse.
Esse diálogo intergeracional que teve com a avó hoje se repete com sua irmã Jennifer, de 9 anos. Jahzara conta que lê para ela obras de autores indígenas, como Ailton Krenak, e percebe que ela internaliza esses conhecimentos: “Às vezes, no dia seguinte, ela chega com alguns desenhos sobre o que conversamos”, conta.
As crianças no CEI Cantinho da Tia Isaura entendem muito bem quando professores falam sobre o clima com elas. A diretora da instituição reforçou que subestimá-las não é a postura adequada e percebe que as crianças conseguem influenciar e mudar o comportamento dos familiares.
“Elas compreendem o prejuízo do lixo para as árvores de uma forma muito simples e é muito bacana o impacto que tivemos em relação às famílias, porque elas corrigem os pais”, afirmou a educadora.
Ativismo
Jahzara considera que já nasceu ativista, apesar de apenas recentemente ter tido contato com essa nomenclatura. “Nasci em um contexto de luta, cresci em um ambiente que era muito afetado pela crise climática”, disse.
Ela lembrou que seu bairro sempre foi muito afetado pelas enchentes e entendeu com o tempo que isso tinha a ver com as crises climáticas e com o racismo ambiental que atinge pessoas periféricas, como é o caso dela.
Foi somente quando mudou de escola que ela conseguiu compreender melhor essas desigualdades: “Eu fui percebendo que não era todo mundo que perdia o sofá quando tinha enchente”, disse.
A partir dessas novas perspectivas, ela começou a atuar como ativista, levando o debate para os jovens do seu bairro e visitando escolas em sua região. “Eu não cheguei falando do conceito, mas trazendo para a nossa realidade, falando do lixo e do esgoto, e assim consegui engajar as pessoas”, afirmou.
Ancestralidade
Os saberes dos povos tradicionais foram destacados como parte significativa na luta pelo clima. “Eu não luto só pelo futuro, luto também pelo passado, por quem veio antes de mim”, afirmou Jahzara.
Érika destacou que há muito o que aprender com os povos indígenas, principalmente em relação ao trato com as crianças, que logo cedo já entendem que é necessário cuidar do planeta.
Nesta semana, o Porvir publicou uma reportagem especial sobre como introduzir o meio ambiente como tema escolar de maneira crítica, abordando ancestralidade, juventudes e crise climática. Além disso, há um material em PDF para que educadores possam trabalhar a temática em sala de aula. Confira o material aqui.
Fonte: Portal Porvir - Ruam Oliveira